Tradução: Iran Filho

Nesta semana, eu discuti se Hitler era realmente um Cristão, na London Radio, com o historiador Richard Weikart do Discovery Institute, mediado por Justin Brierly. Eu já estive no programa de Brierly Unbelievable? antes. Da última vez, eu estive em Londres especificamente para poder me juntar a ele no estúdio. Desta vez, eu era um convidado. Ele é um grande anfitrião. E ele sempre faz um bom debate informal quando tem convidados opostos, como ele fez comigo duas vezes agora. Da última vez, estive com Mark Goodacre, discutindo sobre a historicidade de Jesus. Desta vez, estive com Richard Weikart, discutindo sobre a religião de Hitler. Esse programa está disponível apenas online, e você pode ouvi-lo agora. Brierly fez um bom trabalho ao ter ambos os nossos casos apresentados, para que eles possam ser comparados. E, considerando o tempo limitado, acho que é uma discussão justa, mesmo que, inevitavelmente, incompleta.

O livro em contenção
O novo livro de Weikart, Hitler’s Religion: The Twisted Beliefs that Drove the Third Reich é, na verdade, bastante completo, bem pesquisado e certamente não é ridículo. Você só precisa lê-lo com a devida cautela, pois ele interpreta mal as evidências, interpreta mal o contexto e deixa algumas provas de fora (vou dar exemplos em breve), mas, além disso não há nada tão completo que você encontre em qualquer outro lugar, e ele cita cuidadosamente todas as suas fontes, por isso é uma mina de ouro para quem quer debater, pensar ou estudar as crenças religiosas de Hitler. Alguns de seus principais pressupostos e conclusões estão errados, e ele ignora algumas coisas. Então leia seu livro criticamente. Mas não há nada melhor para começar. Se você ler seu livro ao lado de meu capítulo sobre o mesmo assunto em Hitler Homer Bible Christ, que atualiza e expande meu artigo de 2003 na German Studies Review de maneira relevante sobre o tratamento de Weikart, e eu acho que você terá um quadro completo. (Veja também minha última atualização sobre a pesquisa do Professor Nilsson expandindo-se na minha, e novas atualizações aparecerão aqui no futuro).

Weikart admite, e repetidamente mostra de fontes primárias em seu livro, que Hitler certamente não era ateu, nem o ateísmo impulsionou seu pensamento. De fato, como Weikart mostra, Hitler desprezava os ateus e os considerava uma ameaça à ordem social. Weikart tenta culpar vagamente o secularismo, como tendo secularizado o pensamento anti-semita através da perversão do darwinismo social (e influenciando, assim, Hitler), mas faz isso ao mesmo tempo que documenta o papel igualmente potente do Cristianismo anti-semita. Por isso, vale a pena notar que aqui temos um membro de um instituto criacionista admitindo, e até provando, que Hitler não era um ateu, e foi, na verdade, explicitamente oposto ao ateísmo. Você pode fazer bom uso disso ao lidar com Cristãos que continuam alegando Hitler era um ateu, ou foi aprovado pelo ateísmo. (Surpreendentemente, até mesmo a excelente série da Amazon Prime The Man in the High Castle descreve Hitler como um ateu, na verdade, até alegando que ele baniu a Bíblia. Até mesmo a cultura secular foi enganada nesse mito).

Mas o que Weikart tenta fazer, em vez disso, uma vez que ele não pode afirmar que Hitler era um ateu, é argumentar que, pelo menos, ele não era Cristão.

Weikart tenta chegar a essa conclusão com duas táticas.

Primeiro, com uma falácia de alegação especial, usando uma definição tendenciosa do Cristianismo como se o Cristianismo fosse apenas trinitário (uma exigência de adesão ao Conselho Mundial de Igrejas Cristãs). Isso não só exclui muitas seitas Cristãs famosas do passado e de hoje (Testemunhas de Jeová, Mórmons, Unitários, Arianos, Cátaros, Davidianos de Ramo, Templo Popular dos Discípulos de Cristo, alguns Quakers), mas exclui até mesmo os Cristãos originais dos primeiros sessenta anos do movimento, incluindo o apóstolo São Paulo, e cada Cristão que ele conhecia. Nenhum Cristão, originalmente, acreditava na visão trinitária de que Jesus era Deus. Na verdade, essa seria uma noção estranha aos Cristãos das duas primeiras vias de seu crescimento original (OHJ, pp. 148-52). Foi, na verdade, uma perversão posterior da religião, vista pela primeira vez na redação canônica final do Evangelho de João, provavelmente originária do início do século II (OHJ, pp. 92, 94-96, 267-69; Veja também Bart Ehrman, sobre Como Jesus se tornou Deus).

Mesmo aquelas outras seitas, muitas das quais ainda existem (e algumas, como o Unitarismo, foram professadas pelos proeminentes Pais Fundadores dos Estados Unidos, como Thomas Jefferson), são certamente seitas Cristãs, historicamente e teologicamente – Elas surgiram do Cristianismo e consideram como verdadeiras as realizações da fé Cristã original. Se eles não podem ser chamados de Cristãos porque eles se desviaram da fé original, então os trinitarianos também não podem até ser chamados de Cristãos, porque eles se desviaram tanto quanto ele nesse detalhe.

Weikart acha que Cristãos são apenas Cristãos que concordarem com essa perversão, a doutrina da trindade, mas também se admirarem os ensinamentos de Jesus – Mesmo que apenas seletivamente, exatamente como Hitler – E acreditem em seus milagres literais e ressurreição – Mesmo que milhões de Cristãos liberais ao redor do mundo não interprete literalmente seus milagres, e sua ressurreição; Assim, na verdade, a maioria dos Cristãos não são Cristãos, na visão de Weikart. Essa é uma forma especiosa de argumentar. Hitler era um Cristão liberal não-trinitário. Ele foi, certamente, mais Cristão do que Thomas Jefferson (Um Deísta, pela descrição moderna, mas, de fato, um professo do Unitarianismo Cristão). De fato, como mostrarei, embora publicamente Hitler fosse um católico professo (nunca renunciou, nunca foi excomungado), ele estava pessoalmente aborrecido com o Catolicismo e, em vez disso, foi defensor de uma Seita Cristã recentemente desenvolvida conhecida na época como Cristianismo Positivo.

Em segundo lugar, Weikart tenta encaixar Hitler no molde de um panteísta. De modo que não só Hitler não é um Cristão, porque ele rejeita a doutrina da trindade, mas ele não é nem mesmo um Teísta, porque ele não acredita em um Deus pessoal. Ou então porque Weikart quer que você acredite nisso (e talvez, por dissonância cognitiva, queira acreditar em si mesmo). Esta é uma tentativa de tentar tornar Hitler, praticamente, um ateu. Mas a evidência de que Hitler acreditava em um Deus criador pessoal – e em uma vida após a morte pessoal, que também exclui o panteísmo – É amplamente forte e arruína o caso de Weikart. Da mesma forma, há evidência de que Hitler venerava Jesus Cristo como uma figura central em sua soteriologia torcida.

Isto é o que eu vou discutir abaixo. Embora eu já tenha atingido alguns dos pontos do programa, mas aqui darei mais detalhes, de forma mais organizada.

Distorcendo a evidência
Weikart quer insistir que Hitler era um panteísta. Panteísmo significa a crença de que o universo é Deus. Weikart identifica-o como uma estirpe do secularismo (Hitler’s religion, 270), “o culto à natureza ou o Cosmos como Deus” (loc. 332), de fato, praticamente idêntico ao ateísmo (loc. 3516-17). Os panteístas não podem ser Criacionistas em nenhum sentido literal (nem mesmo da variante da Terra Antiga: loc. 4166). Nem acreditam em uma vida pessoal após a morte de qualquer tipo (loc. 1163, 1190), e só acreditam na “Providência” como o resultado inevitável das leis da natureza, não como o plano pessoal e instanciado de um ser sensível (loc. 3690). Em outras palavras, o “panteísmo” realmente soa como uma palavra de código para o ateísmo; Na verdade, é realmente “apenas um ateísmo educado”, como Weikart cita na fala de Shopenhauer.

Isso não descreve as crenças de Hitler. Weikart tenta fazê-lo parecer assim, mas apenas ignora e extrapola as evidências, ou ignora o contexto. Como um exemplo de ignorar as evidências, no texto original alemão de Hitler’s Table Talk, as notas particulares de seus secretários sobre o que ele disse durante o jantar, ou chá, em seu bunker (que Weikart, muitas vezes, se baseia, mas, corretamente, não confia na única tradução em Inglês, citando meu trabalho favoravelmente como tendo devidamente advertido contra isso: loc. 4709, ele trabalha a partir do original alemão com suas próprias traduções), Hitler uma vez comentou: “Eu me sinto bem na sociedade histórica em que estou, se houver um Olimpo. No lugar em que estou entrando, estarão os espíritos mais iluminados de todos os tempos” (HHBC, pp. 181-82). Weikart nunca menciona esta passagem em nenhum lugar de seu livro. Ele simplesmente omite totalmente a única clara declaração de Hitler que expressa sua crença em uma vida pessoal após a morte.

Da mesma forma, como exemplo de interpretação exagerada das evidências, quando Weikart diz que Hitler “desacreditou no Céu Cristão”, ele não diz que Hitler, de fato, depreciou um tipo específico de Céu Cristão (algum que ele considerasse chato), mas não desconsiderou todo conceito Cristão de céu. Hitler só falou contra a versão Católica de céu, que valoriza pacifistas e fracos ao invés de excelentes e fortes (e belos). Ele mesmo acreditava que “verdadeiros heróis” iriam ao céu, e, em vez disso, “os espíritos mais iluminados”, não, como ele os olhava, os “patéticos santos que os católicos reverenciavam”. Que é uma visão não-rara [de encontrar] entre os nacionalistas Cristãos dos Estados Unidos hoje, que acreditam que qualquer ‘católico idiota’ acredita em uma mentira pagã, enquanto ‘pacifistas esquerdinhas’ vão queimar no inferno, e apenas as pessoas que lutam por seu país, que “não são bichas”, vão para o céu. No entanto, quando, assim como eles, Hitler ataca apenas um tipo particular de céu, Weikart apresenta isso como Hitler rejeitando todo e qualquer conceito de céu. Weikart faz isso com frequência em todo o seu livro, por isso aponto firmemente contra esta dependência de non sequitur quando ele salta da prova para a conclusão, caso após caso.

Da mesma forma, as observações de Hitler sobre o inferno: Ele atacou as doutrinas sobre inferno como sendo bárbaras, mas não porque ele era um panteísta, e sim porque ele parece ter sido um aniquilacionista – O “maldito” iria apenas ficar morto, reabsorvido no cosmos (Weikart apresenta ampla evidência que ele acreditava nisto); Somente os salvos viveriam para sempre no céu (o “Olimpo” dos “espíritos iluminados” de Hitler, que ele estava ansioso para ir). Muitos Cristãos, hoje, também rejeitam o inferno exatamente como Hitler o fez; E o aniquilacionismo é uma doutrina Cristã aceita em muitas seitas (e foi, provavelmente, a visão do próprio apóstolo Paulo). Portanto, essas crenças não fazem de Hitler um não-Cristão.

Da mesma forma, como até mesmo as passagens que Weikart cita mostram (loc. 1145-50 e como observei em HHBC, p.186), Hitler parece ter mantido a visão Cristã original, expressa em Paulo, de que ninguém, nem mesmo Jesus, ressurgiu dos mortos em carne (Uma “noção bestial”, como Hitler a chamava), mas em uma nova forma superior (sobre isso como uma crença antiga, veja TET, pp. 105-55, O artigo Spiritual Body FAQ e, mais recentemente, meu artigo Resposta a Pitts sobre a Ressurreição do Corpo). Nós nos tornamos algo mais na vida após a morte. E, além disso, apenas os espíritos “mais iluminados” conseguem experimentar isso; Contrariando o ensino “judaico” de que todos vivem para sempre, onde apenas os escolhidos vivem para sempre, Hitler disse em Mein Kampf que “devemos” acreditar. Hitler apenas disse que não tinha certeza do que seria a vida após a morte (loc. 1153); Um comentário que implica que ele acreditava que havia uma. Weikart também confunde algo que Hitler disse sobre o que os japoneses acreditavam – que as pessoas se dissolvem de volta à natureza, corpo e alma – Como sendo o que Hitler acreditava (loc. 1160); Na verdade, Hitler disse que não estava tentando arruinar seu cérebro tentando entender a visão japonesa de vida após a morte. Portanto, não podemos realmente fazer com que Hitler seja um negador de uma vida após a morte, tanto quanto Weikart o tenta.

E, como um exemplo de desconsideração do contexto, Weikart cita frequentemente Hitler dizendo algo sobre o “Cristianismo”, ou “Cristãos” que, na verdade, quando você verifica o contexto, está inconfundivelmente referindo-se apenas ao Catolicismo. Na verdade, é bastante claro, de instância a instância, que Hitler usou a palavra Christentum (traduzida como “Cristianismo”, quando suas citações são trazidas para o inglês) para significar não o Cristianismo, mas a Cristandade: a Igreja Católica como um fenômeno histórico mundial (HHBC, Pp. 184-86). Portanto, fique atento contra isso. Weikart muitas vezes ignora ou mesmo oculta o contexto narrativo dessas citações. Por exemplo, quando Hitler é registrado como dizendo que “o Cristianismo” é “a coisa mais louca que um cérebro humano já inventou em sua ilusão”, o contexto que foi omitido foi que ele estava falando sobre a transubstanciação – uma doutrina ensinada apenas pelos católicos (e algumas seitas rupestres como os coptas); E, assim, Hitler não pode estar se referindo a todo o Cristianismo, quando sua observação não se aplica aos protestantes, por exemplo. Isto, é claro, não apenas pelo contexto, mas também, quando o texto alemão publicado foi corrigido contra as folhas de nota originais feitas por uma testemunha ocular, determinou-se que o texto deveria ser lido, ou que significava, “O Cristianismo ensina ‘Transubstanciação’, que é a coisa mais louca…”

Isso também me faz lembrar que Weikart confia demais na edição de Jochmann do texto em alemão do Table’s Talk (que ele cita como Monólogo), proclamando-a mais confiável do que Picker, simplesmente por causa de outros estudiosos, que não leram meus, digamos assim, resultados publicados e, portanto, cujas opiniões não são muito bem informadas. De fato, a edição de Picker vem diretamente das notas originais não-editadas de Picker sobre o que Hitler disse a cada dia e no dia anterior (fazendo de Picker uma testemunha ocular, que escreveu suas lembranças dentro de 24 horas – O mais próximo possível das palavras reais de Hitler). Verificada por terceiros contra as folhas de notas originais (para a edição revisada subsequente de Picker). A edição de Jochmann, em contrapartida, foi, de fato, fortemente editada pelo notável ateu Martin Bormann (temos, até mesmo, folhas mostrando suas mudanças manuscritas nas margens, e algumas entradas inteiras são explicitamente escritas por Bormann) e foi mantida sob custódia por François Genoud durante trinta anos, sem que ninguém tivesse permitido ver quase nada disso – e Genoud é um conhecido vigarista falsificador de passagens deste mesmo texto. Portanto, cuidado também é necessário quando se confia em quaisquer passagens que Weikart cita do Table’s Talk. Eles foram escritos ou alterados por Bormann? Ou por Genoud? O livro de Weikart não lhe dará nenhuma orientação sobre isso.

Cristianismo Positivo
Notavelmente ausente do livro de Weikart é, também, uma discussão séria sobre o Cristianismo Positivo como uma seita desenvolvida por intelectuais alemães, no início do século XX. Ele menciona-o repetidamente, até mesmo pretende descrevê-lo (por exemplo, loc. 1464-92) e admite que Hitler o defendeu (loc. 1452), mas nunca explica quais eram suas doutrinas ou seu desenvolvimento histórico e sua influência específica sobre Hitler, especialmente sobre o seu mais bem conhecido articulador, Alfred Rosenberg (ver HHBC, pp. 188-90). Se você quiser um tratamento histórico apropriado disto, você deve ler The Aryan Jesus, de Susannah Heschel (mencionado rapidamente em uma nota adiantada, mas nunca usado no livro por Weikart, que, em vez disto, tenta discutir muito sobre o aspecto de Richard Steigmann-Gall em The Holy Reich: Nazi Conceptions of Christianity – 1919-1945, e encorajo os leitores a comparar o livro de Weikart com o que realmente está no livro de Steigmann-Gall, embora Heschel vá mais diretamente ao ponto). O Cristianismo Positivo foi a seita Cristã publicamente adotada pelo Partido Nazista em seu Programa de 25 Pontos em 1925. Esta foi uma seita pública e popular da época.

As doutrinas distintivas do Cristianismo Positivo eram que as seitas e os dogmas foram corrupções dos ensinamentos originais de Jesus e deveriam ser abandonadas por uma fé pura e verdadeira; Que o Cristianismo deveria ser unificado e servir ao Estado; Que Jesus era um Ariano que falava a verdade do poder contra os Judeus, e morreu como um herói e mártir da verdade; Que seus ensinamentos levariam à salvação de todos os que os seguiram (nesta vida e na próxima); Que Paulo corrompeu a verdadeira religião ensinada por Jesus ao atormentá-la com rituais e ideias judaicas, produzindo o catolicismo, que foi, assim, considerado uma perversão do Cristianismo (tornando-se, definitivamente, uma seita protestante), responsável pela miséria generalizada na história (uma visão do Catolicismo compartilhada por muitos protestantes ao longo da história); E que o verdadeiro Cristianismo também estava de acordo com os tradicionais princípios religiosos nórdicos, porque a verdade religiosa poderia ser interpretada fora do projeto da natureza de Deus, de modo que aqueles que participavam da dedução da vontade de Deus das leis e operações da natureza estavam vendo a mente de Deus. Em outras palavras, porque Deus criou a natureza, seguir a natureza era seguir a vontade de Deus, porque suas leis e operações encarnam sua vontade. O Cristianismo Positivo também era unitário – assim como as Testemunhas de Jeová de hoje, e os Arianos da Antiguidade, e muitos dos Pais Fundadores na Revolução Americana.

O próprio Hitler citou os ensinamentos de Jesus, como alimentar os pobres, como fundamentais para o Cristianismo Positivo. Mesmo Weikart cita-o dizendo isto (loc. 1532), com Hitler declarando: “Se o Cristianismo Positivo significa amor ao próximo, ou seja, o remédio dos doentes, a roupa dos pobres, a alimentação dos famintos, água à aqueles que estão com sede, então somos nós que somos os Cristãos mais positivos”. Embora Weikart zombe, justificadamente, a hipocrisia de Hitler por apenas considerar certas pessoas como receptoras adequadas de tal caridade, isso também é verdade para grande parte do Cristianismo moderno, que se manifesta bastante de racismo desenfreado anti-imigração, hostilidade aberta ao bem-estar, e denigração dos pobres e a desabrigados – E isso ainda acontecendo hoje; Os piores horrores hipócritas dos católicos medievais dificilmente precisam ser relatados aqui. É uma tautologia espinhosa dizer que os hipócritas não são cristãos “reais”. Isso significaria que quase nunca houve um Cristão em toda a história.

Hitler também admirava tudo o que Jesus dizia contra os judeus, tais como suas declarações contra a hipocrisia e a ganância, e lições como “servir a Deus contra Mamon, pagar dívidas a César e desmascarar os cambistas” (HHBC, p.189). Hitler e os Cristãos Positivos, em geral, admiravam e seguiam os ensinamentos de Jesus (não Maomé, ou o Talmud, ou qualquer outra autoridade religiosa não-Cristã) e se definiam por esse fato. Isso é o que os torna Cristãos. Que eles eram seletivos nos ensinamentos que eles seguiram, e hipócritas em sua implementação, não os torna diferentes de quase todos os Cristãos do mundo. Então você não pode dizer que Hitler não era Cristão com essa informação.

Mas, o mais distintivo e peculiar desses ensinamentos Cristãos Positivos é esta ideia de Paulo como um corruptor judaizante, criando a abominação à Igreja Católica “secretamente judaica” contra os verdadeiros ensinamentos de Jesus, e a noção de que Jesus era, na verdade, um Ariano condenando os Judeus. Eles tomaram a antiga calúnia judaica, que Jesus foi gerado por uma ligação adúltera entre Maria e um legionário romano chamado Pantera, não apenas como verdade, não como uma calúnia, e sim, realmente, como um fato heroico que legitimou Jesus como seu herói religioso. E sua visão de Paulo e “a doença” do catolicismo é ainda mais estranha. No entanto, em seus discursos particulares no Table’s Talk, Hitler adota esses três ensinamentos peculiares – que Cristo era um herói ariano, que Paulo era um apóstata que judaizava o Cristianismo e que o Catolicismo era um cripto-judaísmo blasfemo (HHBC, pp. 85, 189-90). Esses pontos de vista são muito peculiares para serem coincidência, provando que as simpatias particulares de Hitler estavam inteiramente alinhadas ao Cristianismo Positivo. Isso o torna um Cristão.

Hitler não apenas acreditava em uma vida pessoal depois da morte, como também acreditava na providência de Deus (como eu já mostrei anteriormente), e embora Weikart tente argumentar que Hitler só queria dizer, com isso, o resultado inevitável das leis da natureza, o contexto de muitas de suas referências a ela não corresponde a essa interpretação. Hitler acreditou que Deus o havia escolhido para efetuar a sua vontade na Terra e fazer do mundo um lugar melhor, e que Deus estava ajudando Hitler a alcançar esse objetivo ao decidir o resultado de eventos fortuitos (os próprios fatos de Weikart), como uma deidade pessoal e sensível, não como leis cegas da física. Hitler também pensava que igrejas e credos organizados faziam uma zombaria da providência de Deus, e ele condenava qualquer pessoa que fizesse “Um escárnio da providência Eterna” (para exemplo, HHBC, p.181). Hitler disse: “Estou aqui devido a um poder superior” e acreditava que ele tinha que destruir o ateísmo para “O homem poder ser capaz de desenvolver seus talentos dados por Deus” (HHBC, p.177). E ele disse: “Se há um Deus, ele dá não só a vida, mas também o conhecimento” e “Eu regulei minha vida com base na percepção que Deus me deu” (Table’s Talk, 13 de dezembro de 1941). Você tem que, realmente, distorcer bastante estes fatos com suposições não-evidenciadas para conseguir tais observações sobre panteísmo.

Hitler também era criacionista. Ele declarou que “o que o homem sabe sobre os animais, possivelmente a mais maravilhosa prova de sua superioridade, é que ele entendeu que deve haver um Poder Criativo” (HHBC, p.179-80). Seguir a natureza seguia as leis de Deus e, portanto, a vontade de Deus estava de acordo com Hitler (o próprio Weikart mostra isso com inúmeros exemplos), e essa era uma doutrina do Cristianismo Positivo. Uma vez que as leis da natureza foram colocadas por Deus, rejeitá-las ou desafiá-las era rejeitar ou desafiar a Deus. A atitude de Hitler implica em um plano sensível na mente de Deus; Uma intenção divina que devia ser respeitada precisamente porque veio de um Criador inteligente, alguém mais esperto do que nós. E sobre a condenação de Hitler das igrejas que rejeitaram ou se opuseram às descobertas da ciência, ele não só estava adotando essa visão do Cristianismo Positivo, como ecoava até nos ensinamentos de Santo Agostinho, que também declarou que o Cristianismo não deveria contradizer os fatos científicos, mas que devemos aceitá-los como a verdade de Deus, e, por sua vez, condenou os Cristãos que tentaram negar ou rejeitar os fatos científicos. Assim como Hitler o fez.

Weikart tenta negar que Hitler era um criacionista insistindo sempre que Hitler se refere à Natureza como sendo Eterna, com ele querendo dizer “passado eterno”, embora Hitler nunca tenha dito isso, e tal conceito é um uso esotérico especializado da palavra “eterno”. Na Apologética Cristã, décadas mais tarde – e mesmo naquela época, apologistas que usam o termo dessa forma, mesmo hoje, sabem que têm de dizer especificamente “passado eterno” para levar esse significado específico. Hitler nunca faz isso. E, assim, Weikart não tem nenhuma base para concluir que Hitler diz por “eterno” o sentido especializado de “passado” eterno (e, portanto, nunca “criado”, em qualquer sentido literal). Mas, obviamente, Hitler quer dizer que, o que Deus fez, durará para sempre, e nunca poderá ser frustrado ou desfeito. Não há nenhuma evidência para um panteísmo aqui.

Finalmente, Weikart tenta argumentar que Hitler não era um Cristão porque elogiou o valorismo dos muçulmanos e dos japoneses pagãos, e considerou suas religiões como produzindo melhores soldados do que o catolicismo. Mas isso é apenas mais uma crítica anti-católica. Ele pensar que os verdadeiros Cristãos deveriam ser tão valorosos quanto os muçulmanos e pagãos não o torna um muçulmano ou um pagão. Hitler disse repetidamente que ele reverenciava e seguia os ensinamentos de Jesus; Ele nunca disse nada sobre reverenciar ou seguir os ensinamentos de Maomé ou do Imperador Divino do Japão. Foi, novamente, uma característica do Cristianismo Positivo pregando a força sobre a fraqueza, e vendo o culto católico de santos, por exemplo, como uma corrupção do verdadeiro heroísmo do Jesus Ariano. Muitos evangélicos americanos do estilo “Make America Great Again” tem opiniões semelhantes sobre isto, de um Deus “realmente” recompensando a força sobre a fraqueza da mesma maneira. Nisto, eles são tão Cristãos quanto Hitler.

Antissemitismo Darwiniano vs. Cristão
O antissemitismo não vem do pensamento darwiniano. Em nenhum lugar, de fato, o darwinismo daria sentido à hostilidade em relação aos judeus. Isso veio inteiramente dos Cristãos. Hector Avalos já provou que o programa nazista contra os judeus era inteiramente o mesmo, linha por linha, com o pensamento de Martinho Lutero, e não deriva nada de Darwin (veja “Atheism Was Not the Cause of the Holocaust“, em John Loftus, ed. The Christian Desilusion). Até mesmo transformar o antissemitismo em uma condenação aos judeus como uma raça corrupta ameaçando o sangue ariano, e não apenas uma religião da qual eles poderiam ser salvos, é anterior a qualquer coisa que Darwin escreveu – foi defendida já em 1848 por Arthur de Gobineau, cuja influência sobre os nazistas estão bem documentadas. Considerando que, em nenhum dos escritos de Darwin, há qualquer menção à judeus ou ao judaísmo de tal forma.

Darwin não racializou os judeus, nem sequer disse nada sobre raças que precisam ser exterminadas. Ele também não condenou os homossexuais, nem as Testemunhas de Jeová, nem os negros, nem os ciganos, nem os doentes congênitos, nem as pessoas que os nazistas exterminaram nos campos. A ideia de fazer qualquer coisa do tipo evoluiu do nacionalismo Cristão pré-darwinista (veja Infected Christianity, por Alan Davies). Mesmo a ideia da eugenia, que derivava das ideias darwinianas, foi amplamente adotada por líderes e intelectuais Cristãos, e, portanto, não era um movimento distintamente secular. O Darwinismo Social, uma pseudociência desviante nunca adotada por Darwin, deu apoio a ateus que queriam adotar as mesmas ideias vis. Mas também corrompeu ainda mais as tensões racistas do Cristianismo que já existiam anteriormente; E é por tais tensões do Cristianismo (mais proeminente do Cristianismo Positivo), e não do darwinismo, diretamente, que a maioria dos nazistas foram influenciados.

Se o cristianismo foi tão amplamente corrompido dessa forma antes, pode ter sido novamente (e, entre alguns hoje, já o foi). E esse é um cuidado para nunca se esquecer [de ter]. Devemos permanecer sempre vigilantes contra essa doença.

Em contraste, enquanto Hitler disse que o que separa o homem dos animais é que ele reconhece um Criador, Darwin disse que o que separa o homem dos animais é que ele reconhece a crueldade do darwinismo e, ao contrário da indiferença cruel da natureza, temos simpatia por nossos semelhantes (Veja “Darwin on Moral Intelligence“, por Vincent di Norcia). Em outras palavras, Darwin tirou de sua descoberta da evolução pela seleção natural a conclusão de que somos superiores aos animais precisamente porque não seguimos mais essas leis bárbaras, mas realmente cuidamos dos fracos e dos doentes. Então, por que os outros tomaram a lição exatamente oposta do darwinismo? Quando você olha para o que causou aquela mudança radical, muitas vezes – e, explicitamente, na ideologia nazista em geral, e no sistema de crenças professado especificamente por Hitler – há a introdução do Nacionalismo Cristão e do Antissemitismo Cristão. Em outras palavras, o darwinismo por si só era compassivo. Adicione o Cristianismo, e ele se torna virulento.

Darwin, no final, não considerava a natureza como ordenada por Deus e, portanto, não tinha razão para acreditar que a natureza expressasse a vontade de uma mente superior. Assim, ele poderia condenar livremente a natureza como bárbara. Esta é, de fato, a conclusão mais fácil de um ateísta: A natureza é tão má quanto qualquer Deus seria se existisse; Na verdade, a crueldade inconcebível da seleção natural é uma evidência contra a bondade de qualquer Deus possível e, portanto, uma evidência contra qualquer Deus digno de adoração. Tomou-se a adição do teísmo – E na época, o teísmo dominante era o Cristianismo – para chegar à conclusão oposta de que a seleção natural devia ser, de fato, boa, por causa do fato de que, de outro modo, o Deus que eles julgavam digno de sua adoração nunca faria o mundo de tal maneira.

Alguns Cristãos se rebelaram contra os fatos, taparam seus ouvidos e tentaram negar que Deus faria o mundo de uma maneira tão vil – eles se tornaram os Criacionistas da Terra Jovem. Mas para aqueles que não podiam viver nessa negação de fatos (tornando-se, assim, Criacionistas da Terra Velha) tinham apenas duas opções restantes: Abandonar sua crença em um Deus digno (e, assim, juntar-se aos ateus) ou abandonar sua crença de que a evolução pela seleção natural é cruel. E muitos Cristãos realmente tomaram o último caminho: se Deus ordenou que o mundo fosse assim, então isso deve ser bom e, portanto, o darwinismo social deve ser a vontade de Deus. Assim, os Cristãos que acreditavam na natureza foram inteligentemente criados e, assim, expressaram a vontade de uma mente superior, a própria vontade do próprio Deus, foram levados a concluir, com facilidade, contra Darwin, que a barbaridade aparentemente cruel das leis naturais era, de fato, a própria Vontade de Deus, assim sendo obedecida e até mesmo aperfeiçoada. Como poderia ser diferente? Adicione centenas de anos de Antissemitismo Cristão (especialmente Luterano), e você terá o Cristianismo Positivo.

Ao contrário de Hitler, Darwin escreveu como a cooperação moral na sociedade, e a ajuda aos fracos, era tão penetrante que era, obviamente, um traço evolutivo e, portanto, era, na verdade, o resultado da seleção natural. Tinha, portanto, de ser mais propício ao sucesso reprodutivo diferencial para animais sociais complexos como seres humanos do que a guerra ou matar uns aos outros. Os darwinistas sociais, Cristãos ou Ateístas, tendiam a ignorar os fatos científicos que Darwin apontou, porque eles já tinham um desdém racista, nacionalista ou aristocrático pelas minorias. Eles usaram o darwinismo social como uma racionalização para as crenças que já tinham antes disto. Da mesma forma que os cristãos repugnados pela homossexualidade e pela libertação sexual das mulheres usaram seu Cristianismo para racionalizar a votação de candidatos que exigem a execução bíblicamente ordenada de gays e da proibição da educação sexual segura. O Cristianismo trouxe consigo essas atitudes vis, mas elas ainda poderiam ter se originado em outro lugar; O que o Cristianismo fez, principalmente, foi tornar muito mais fácil racionalizá-las. Cristãos que discordam da barbárie dessas atitudes, mudam seu Cristianismo, tornando-o mais Humanista, abandonando todas as coisas vãs que o seu Bom Livro lhes ordena (de Levítico 20 à 1 Timóteo 2). Cristãos que não o fazem, derivam em direção a Hitler.

Conclusão
Hitler foi, claramente, um crente Cristão. Pode-se dizer que ele era um adepto de uma seita obscura e torcida do Cristianismo. Mas tentar negar suas crenças e raízes Cristãs é simplesmente um crime contra a história. E tentar transformar sua crença em um Criador e orientação de Deus da história e sua vida pessoal após a morte e reverência pelos ensinamentos de Jesus em um panteísmo quase ateísta é totalmente falso.

Hitler também não poderia ter realizado seu enorme empreendimento para extinguir os judeus e outros “indesejáveis” sem a cooperação voluntária e até o entusiasmo de milhões de fanáticos Cristãos de muitas seitas diferentes. Alguns Cristãos tiveram a decência de se opor a seus planos, mas sempre estavam em minoria e, portanto, não tipificavam a reação Cristã. Na verdade, as Testemunhas de Jeová, que Weikart nem mesmo admite serem Cristãs, foram os Cristãos mais fielmente opostos a Hitler – muito mais do que qualquer uma das seitas majoritárias, como os luteranos ou católicos. Milhares de Testemunhas de Jeová foram mortas pelo regime nazista, a maioria delas em campos de concentração, onde foram torturadas e mortas como inimigas do estado. Tudo por causa de suas Crenças Cristãs fortemente mantidas. Mas as pessoas que as matavam eram também as mesmas pessoas que Weikart admite serem Cristãs: Os Católicos, os Luteranos e outros sectários que dirigiam os campos, puxavam os gatilhos, e liberavam o gás.

Gott mit uns, “Deus está conosco“, uma citação do Evangelho de Mateus, permaneceu o lema do exército nazista durante toda a guerra. Os horrores do holocausto foram atrocidades imaginada por Cristãos, planejada por Cristãos e conduzida por Cristãos. Foi apenas uma realização eficiente dos sonhos dos cristãos mainstream ao longo da história, dos massacres da Renânia, em 1096, à declaração de Martinho Lutero em 1543 que “temos a culpa em não matá-los”. Hitler e os nazistas simplesmente culminaram disso; Não do darwinismo social. É importante não esconder da história a participação do Cristianismo e dos líderes cristãos, e o uso de argumentos Cristãos, mesmo bíblicos, no avanço das causas más. Tentar desenhar Hitler como um panteísta, que é realmente apenas uma palavra de código para “cripto-ateu”, não faz um serviço à humanidade. É uma tentativa de esconder o que realmente aconteceu, e que perigos realmente se escondem dentro da ideologia Cristã e da mente Cristã.

Não devemos tentar esconder ou negar o papel dos Cristãos ou do Cristianismo na criação e sustentação do Holocausto, mais do que na criação e manutenção da escravidão pré-guerras mundiais, ou no genocídio dos nativos americanos. Que a Bíblia, o Criacionismo, uma crença no céu, ou mesmo a referência aos ensinamentos de Jesus, todos podem ser voltados para fins malignos, e isto não deve ser esquecido. Tentar brincar com definições é apenas trabalhar para esconder a verdade, não para preservá-la ou ensiná-la. E abusar de provas para obter conclusões implausíveis sobre isso, quando as evidências não apoiam honestamente, visa o mesmo fim desagradável. De fato, se condenarmos o Cristianismo Positivo de Hitler como “não sendo realmente o Cristianismo” por causa de tecnicismos arbitrários, temos que condenar o darwinismo social de Hitler como “não sendo realmente o Darwinismo” exatamente pelo mesmo motivo. Na verdade, este último é ainda mais claramente o caso, porque não há nada em Darwin ou no Darwinismo que endosse os projetos de Hitler sobre os judeus, gays, ciganos e Testemunhas de Jeová. No entanto, há uma longa e clara história de líderes Cristãos e seguidores da ideologia Cristã fazendo isto. De onde Hitler teve tal ideia, portanto, deveria ser óbvio.

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