Autor: Joe Schmid
Tradução: Cezar Souza 
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[Nesse artigo Joe está atacando especificamente e majoritariamente a interpretação de Pawl e Feser]

1 O argumento

Aquino escreve:
A terceira via é tomada da possibilidade e da necessidade e funciona assim. Vemos que certas coisas podem ser e não ser, podendo ser geradas e corrompidas. Ora, impossível é existirem sempre todos os seres de tal natureza, pois o que pode não ser, algum tempo não foi. Se, portanto, todas as coisas podem não ser, algum tempo nenhuma existia. Mas, se tal fosse verdade, ainda agora nada existiria pois, o que não é só pode começar a existir por uma coisa já existente; ora, nenhum ente existindo, é impossível que algum comece a existir, e portanto, nada existiria, o que, evidentemente, é falso. Logo, nem todos os seres são possíveis, mas é forçoso que algum dentre eles seja necessário. Ora, tudo o que é necessário ou tem de fora a causa de sua necessidade ou não a tem. Mas não é possível proceder ao infinito, nos seres necessários, que têm a causa da própria necessidade, como também o não é nas causas eficientes, como já se provou. Por onde, é forçoso admitir um ser por si necessário, não tendo de fora a causa da sua necessidade, antes, sendo a causa da necessidade dos outros; e a tal ser, todos chamam Deus. 

Agora, vamos para algumas definições [Fn]:
Coisas que podem ser e não ser = coisas contingentes (ou seja, coisas que são possivelmente existentes, mas também possivelmente inexistentes)
Coisas que não podem não existir = coisas necessárias

[Fn] É assim que usarei os termos. Eu sei que Aquino tem uma concepção diferente de "necessidade". É por isso que estou incluindo a definição e articulação de Pawl abaixo.

A seguir, apresentarei duas formalizações da Terceira Via de Aquino, uma do erudito teísta clássico Dr. Tim Pawl (2011) e outra que é minha própria reconstrução.
Pawl começa observando o entendimento de Tomás sobre "necessário":
Quando Aquino chama algo de "necessário", neste argumento, ele quer dizer que não está sujeito a geração ou corrupção.Um ser necessário existe, mas não passa a existir por composição e não pode deixar de existir por meio da decomposição. Da mesma forma, um ser possível, neste contexto, existe, mas ele existe ou poderia ter surgido por meio da composição e pode deixar de existir por meio da decomposição. (Pawl, 2011, p. 14)

Usando a definição de "necessidade" de Pawl aqui [Fn], Pawl formaliza a Terceira Via da seguinte forma:

[Fn] Minha terminologia em (1) e (2) não é empregada no argumento de Pawl. Começaremos a usar minha terminologia mais tarde.

1. Algumas coisas podem ser geradas ou corrompidas.
2. Se algumas coisas podem ser geradas ou corrompidas, então é possível que essas coisas existam ou não existam.
C1: É possível que algumas coisas existam ou não existam. [1, 2]
3. Se, para cada coisa, é possível que ela não exista, então em algum momento ela não existe.
C2: Se para cada coisa em algum momento ela não existe, então em algum momento nada existe. [3, generalização universal]
4. Se em algum momento nada existe, então não teria havido nada que fizesse outra coisa existir.
5. Se nada tivesse causado a existência de outro ser, nada poderia ter surgido.
6. Se nada poderia ter surgido, então nada existiria mesmo agora.
7. Mas algo existe agora.
C3: Algo pode ter surgido. [6, 7]
C4: Deve ter havido algo para fazer outra coisa existir. [5, C3]
C5. Em nenhum momento o nada existiu. [4, C4]
C6. Não é verdade que, para cada coisa, em algum momento ela não exista. [C2, C5]
C7. Deve haver algo que não seja possível não existir - isto é, deve haver um ser necessário. [3, C6]
8. Um ser necessário tem uma causa para sua necessidade de outra coisa ou não.
9. Não é possível que haja uma série infinita de seres com a necessidade de alguma outra coisa.
C8: Deve haver algum ser necessário com sua necessidade de nenhuma outra coisa. [8, 9]
C9: Chamamos aquele ser necessário, cuja necessidade não vem de nada mais, de "Deus". [Definição]

Como Pawl corretamente aponta a respeito da inferência da premissa (3) para C2, entretanto, “sem a ajuda de uma premissa implícita, a inferência é inválida e comete a falácia da composição” (2011, p. 14). Tecnicamente falando, teria sido melhor descrever a inferência falaciosa como uma falácia de deslocamento do quantificador ao contrário da falácia da composição, mas as duas estão intimamente relacionadas. Do mero fato de que cada coisa é tal que há um tempo em que não existe, simplesmente não se segue que há um tempo único e particular em que nada existe. Isso é tão falacioso quanto inferir do fato de que cada pessoa é tal que tem uma mãe para que haja uma mãe única e particular para todas as pessoas. Discutirei a falácia do deslocamento do quantificador mais adiante em uma seção posterior. Por enquanto, vamos ver minha própria reconstrução da Terceira Via de Aquino:

  1. Cada coisa contingente é tal que há um tempo em que não existe.
  2. Suponha, por reductio, que tudo é uma coisa contingente.
  3. Então, tudo é tal que há um tempo em que não existe. [1, 2]
  4. Se tudo é tal que há um tempo em que não existe, então há um tempo t tal que, possivelmente, nada existe em t.
  5. Se fosse o caso de nada existir em t, então seria impossível que algo começasse a existir (em ou depois de t).
  6. Se fosse impossível que algo começasse a existir (em ou depois de t), então seria impossível que algo existisse agora.
  7. Não pode ser impossível que alguma coisa exista agora.
  8. Portanto, não pode ser que nada exista em t. [5-7]
  9. Portanto, nem tudo é tal que há um tempo em que não existe. [4, 8]
  10. Portanto, tudo é tal que há um tempo em que não existe, e nem tudo é tal que há um tempo em que não existe - o que é um absurdo. [3, 9]
  11. Portanto, nem tudo é contingente. [2, 10, reductio]
  12. Portanto, há pelo menos uma coisa necessária, N. [11]
  13. Cada coisa necessária é necessária per se (ou seja, por si mesma) ou deriva sua necessidade de outra coisa.
  14. As cadeias de necessidades derivadas de outra coisa não podem ser infinitas.
  15. Se cada coisa necessária derivasse sua necessidade de outra coisa, então haveria uma cadeia infinita da necessidade de outra coisa.
  16. Portanto, nem todas as coisas necessárias derivam de outra coisa. [14, 15]
  17. Se há pelo menos uma coisa necessária e nem toda coisa necessária deriva sua necessidade de outra coisa, e se cada coisa necessária é necessária per se (isto é, por si mesma), ou deriva sua necessidade de outra coisa, então existe pelo menos uma coisa que é necessária per se.
  18. Portanto, existe pelo menos uma coisa que é necessária per se. [12, 13, 16, 17]
  19. Se existe pelo menos uma coisa necessária per se, então Deus existe.
  20. Portanto, Deus existe. [18, 19]
Mais uma vez, considero esse argumento (i) muito fiel ao texto original e (ii) válido. Mas a questão ainda permanece: o que fazer com o argumento? 

2. Os principais problemas

Tenho quatro críticas principais a este argumento:
  1. A premissa (1) é falsa (ou pelo menos injustificada)
  2. A premissa (4) é falsa (ou pelo menos injustificada)
  3. A premissa (6) é falsa (ou pelo menos injustificada)
  4. A premissa (19) é falsa (ou pelo menos injustificada)
Vamos considerar cada uma delas separadamente.

2.1 Premissa (1)

Lembre-se da premissa (1): Cada coisa contingente é tal que há um tempo em que não existe.
Isso é equivalente à afirmação de Aquino de que "aquilo que é possível não ser em algum momento não é", ou seja, o que é possivelmente inexistente é tal que um tempo em que não existe. Eu acho que isso é um non sequitur. Simplesmente não decorre do fato de que x possivelmente não existe que haja realmente algum tempo em que x não existe. Parece eminentemente plausível que possa haver algo contingente eterno, ou seja, algo que é "possível não ser", mas que, no entanto, é tal que é falso que haja "algum tempo em que não seja". A premissa de Aquino (1), então, é profundamente implausível.
Agora, pode-se trazer certos elementos da metafísica modal e/ou filosofia da natureza de Tomás de Aquino para sustentar essa inferência. Por exemplo, Ed Feser (2009, p. 84 de 173 em meu PDF) escreve:
O que Aquino quer dizer [por 'possível não ser'] é indicado pela razão que ele dá para dizer que algumas coisas são possivelmente existentes ou não, a saber, que as observamos como geradas e corrompidas. [Fn] ... Para Aquino,a geração e a corrupção, o surgimento e o desaparecimento caracterizam as coisas da nossa experiência porque são compostos de forma e matéria. De certa forma, seu surgimento é apenas a aquisição de uma certa parcela de matéria, e seu falecimento é apenas a perda de uma determinada parcela de matéria. Por conseguinte, é, em última análise, esta natureza composta e hilmórfica que faz com que seja "possível ser e não ser" ... A “possibilidade” em questão não é uma possibilidade lógica abstrata, mas sim algo “inerente”, uma tendência “a se corromper” enraizada “na natureza daquelas coisas ... cuja matéria está sujeita à contrariedade das formas” (QDP 5.3). Em outras palavras, dado que a matéria da qual as coisas de nossa experiência são compostas é sempre inerentemente capaz de assumir formas diferentes daquelas que se instanciam atualmente essas coisas têm um tipo de instabilidade metafísica inerente que garante que elas irão em algum ponto deixar de existir. Eles não têm potência ou potencial para uma existência imutável e indefinida; portanto, eles não podem existir indefinidamente. Por “possível não ser”, então, o que Aquino quer dizer é algo como “ter uma tendência a deixar de existir”, “inerentemente transitória” ou “impermanente”; e por “necessário” ele apenas quer dizer algo que não é dessa forma citada acima, mas algo que é eterno, permanente ou não transitório. Assim, não há falácia em sua inferência de “tal e tal é possível não ser” para “tal e tal em algum momento não é”, pois isso seguiria dado um entendimento aristotélico da natureza das substâncias materiais. Dado o tempo suficiente, tal substância, se deixada por si mesma, teria que desaparecer eventualmente. Não faz sentido a ideia de que pode ser "possível" que ela não exista e, no entanto, que nunca de fato deixa de existir, não importa quanto tempo passe e mesmo se nada agir para frustrar sua tendência à corrupção, pois, nesse caso, a alegação de que tem uma tendência inerente à corrupção seria ininteligível. Algo que sempre existiu mostraria, por esse mesmo fato, que é algo cuja natureza não inclui nenhuma tendência inerente à corrupção e, portanto, que é necessário (In DC I.29).
~
Essa réplica, no entanto, não é satisfatória. Em primeiro lugar, se entendermos 'contingente' no sentido de 'corruptível', com 'corruptível' significando ter alguma tendência, ou disposição, à inexistência, a premissa (1) ainda não se seguiria. Isso porque tendências ou disposições têm condições de manifestação, ou seja, condições cuja satisfação induz à tendência ou disposição de produzir sua manifestação característica.
Considere um fósforo. Este fósforo tem tendência ou disposição para produzir chama e calor. Mas é simplesmente falso que o fósforo, em algum momento ou outro, produza chama e calor. Em vez disso, tudo o que significa é que, desde que certas condições sejam obtidas (ou seja, o fósforo estar seco, o ambiente ser rico em oxigênio, o fósforo estar sendo riscado, etc.) o fósforo manifestará chama e calor. Mas alguns fósforos vivem suas vidas inteiras com tais condições nunca sendo satisfeitas e, portanto, vivem suas vidas inteiras sem que essa tendência ou disposição jamais seja manifestada.
O que isso nos diz é que, mesmo se "contingência" for entendida no sentido de uma tendência ou disposição para a não existência, não se segue que cada coisa contingente em algum momento deixe de existir. Isso só aconteceria se cada coisa contingente fosse tal que as condições de manifestação para sua tendência ou disposição à não existência fossem, em algum momento, satisfeitas. Mas nem Aquino nem Feser nos dão qualquer razão para pensar que isso é verdade.
Na verdade, parece fácil criar cenários que o falsifiquem. Considere, por exemplo, um universo no qual a única entidade que existe é um elétron (ou partícula semelhante a um elétron sem componentes estruturais físicos).[Fn] A única coisa neste mundo é apenas um elétron movendo-se em velocidade constante no vazio. Em tal mundo, parece claro que o elétron continuaria fazendo suas próprias coisas, de eternidade a eternidade. Nada mais poderia surgir para causar a separação de sua forma e matéria (uma vez que nada mais existe em tal mundo), e nenhuma estrutura física interna poderia fazer a partícula decair ou se decompor em elementos mais simples. As únicas condições de manifestação (pelo menos no próprio mundo e não incluindo Deus retendo seu poder de sustentação) para a tendência ou disposição do elétron à não existência parecem totalmente ausentes. Portanto, mesmo que o elétron tenha a tendência ou disposição para a não existência, é falso que o elétron em algum momento deixaria de existir. Enquanto esse cenário for possível, temos um contra-exemplo para a premissa (1). [Fn]

[Fn] Talvez precisemos incluir espaço e / ou tempo como outras entidades. Isso não faz nenhuma diferença para o meu cenário / argumento.
[Fn] E desde que seja mesmo epistemicamente possível, temos um contra-exemplo epistêmico para a premissa (1).

Em segundo lugar, nenhuma justificativa é apresentada para o por que tudo que é composto de forma-matéria é tal que sua matéria esteja sujeita a uma contrariedade de formas. [Fn] Por tudo que Feser mostrou, algumas coisas materiais podem ser tais que sua forma e matéria são necessariamente unidas umas com as outras.

[Fn] Lembre-se de que esta foi uma das motivações centrais que Feser deu para a afirmação de que as coisas materiais, compostas de nossa experiência, têm a tendência ou disposição para a inexistência que o argumento de Aquino requer.

Em terceiro lugar, uma vez que concedemos que este é o sentido de "contingente" em jogo no argumento (isto é, corruptível), o argumento apenas chegará a uma coisa não corruptível (isto é, eterna), que não tem a sua não-corruptibilidade ou eternidade de outra coisa e que, em vez disso, a tem por si mesma. Isso nem mesmo implica que o ser em questão exista por necessidade metafísica (no sentido robusto, "não pode deixar de existir"). Isso parece fortalecer o problema da lacuna consideravelmente [Fn]

[Fn] Considerarei o problema da lacuna mais adiante na Seção 2.4.

2.2 Premissa (4)

Lembre-se da premissa (4): Se tudo é tal que há um tempo em que não existe, então há um tempo t tal que, possivelmente, nada existe em t.
O principal problema com a premissa é que o consequente não segue do antecedente, principalmente porque comete uma falácia de deslocamento do quantificador. Meramente pelo fato de que cada coisa é tal que há um tempo em que não existe, não se segue que haja um tempo único e particular em que nada exista (ou, então, possivelmente nada exista) naquele momento específico. 
Mais uma vez podemos ouvir nosso bom amigo Ed Feser falar sobre esse problema. Ele escreve:
É amplamente sustentado que sua inferência adicional no sentido de que se tudo fosse “possível não ser" e então em algum momento nada teria existido é claramente falaciosa. Especificamente, alega-se que ele é culpado aqui de uma falácia de "mudança dp quantificador", por inferir de "Tudo tem algum tempo em que não existe" para "Há algum tempo em que tudo não existe." Isso é chamado de falácia de “mudança de quantificador” porque a expressão quantificadora “tudo” muda de posição da primeira afirmação para a segunda. A falácia pode ser vista comparando o argumento acima com argumentos paralelos que são claramente falaciosos. Se cada aluno na sala possui um lápis não significa que haja um certo lápis que cada aluno na sala possui ... Da mesma forma, mesmo que todas as coisas contingentes deixem de existir em algum momento, não significa que haja algum tempo em que todos eles deixem de existir juntos. Uma possibilidade alternativa é que mesmo que cada coisa contingente deixe de existir em algum momento, há, entretanto, sempre pelo menos uma outra coisa contingente que continua a existir, e esta série sobreposta de coisas contingentes poderia continuar infinitamente. …
Mas, por mais comum que seja essa objeção, não é de fato fatal para o argumento de Aquino, pois ele não precisa ser interpretado como argumentando da maneira falaciosa descrita. Como vários comentadores têm sugerido, o que Aquino realmente está dizendo é a ideia de que, dada uma extensão infinita de tempo, e dada também a concepção aristotélica de necessidade e possibilidade descrita acima, então se é mesmo possível que cada coisa contingente deixe de existir em conjunto (o que até o crítico de Tomás de Aquino deve admitir), essa possibilidade deve realmente ocorrer. Pois (novamente, pelo menos dada uma concepção aristotélica de possibilidade) seria absurdo sugerir que é possível que todas as coisas contingentes deixem de existir juntas, e ainda que, mesmo por um período infinito de tempo, isso nunca acontecerá de fato. "Possibilidade" aqui implica uma tendência inerent que deve se manifestar com tempo suficiente, e um tempo infinito é obviamente mais do que suficiente. Assim, se tudo fosse realmente contingente, teria havido algum tempo no passado em que nada existia, e nesse caso nada existiria agora, o que é absurdo, e assim por diante, e o argumento de Aquino seria (pelo menos até esta fase da prova) justificável. (2009, pp. 83-85 de um total de 173 no meu PDF)

Primeiro, parece que a réplica de Feser simplesmente substitui um deslocamento de quantificador por outro. Pois simplesmente não decorre do fato de que cada coisa tem uma tendência ou disposição para deixar de existir que haja alguma tendência ou disposição para que tudo (junto) deixe de existir. Em nenhum lugar Feser ou Aquino demonstraram que existe uma tendência ou disposição para que tudo (junto) deixe de existir. Mas isso é precisamente o que é necessário para evitar a falácia do deslocamento do quantificador.

Em segundo lugar, mesmo se concedermos a Feser ou Aquino que há uma tendência ou disposição para que tudo (junto) deixe de existir, o mesmo problema explorado na seção anterior reaparece. Pois esta tendência ou disposição só será realizada se as condições de manifestação da tendência ou disposição forem satisfeitas. Mas Feser não dá nenhuma razão para pensar que esse é, será ou deve ser o caso.
Considere um raciocínio análogo: dado um período infinito de tempo, um fósforo - porque tem uma tendência ou disposição inerente para chama e calor - eventualmente emitirá chama e calor. Isso simplesmente não segue. Pois se as condições de manifestação para o acendimento do fósforo nunca existirem, então, mesmo com tempo infinito, o fósforo não emitirá chama e calor.

2.3 Premissa (6)

Lembre-se da premissa (6): Se fosse impossível que algo começasse a existir (em ou depois de t), então seria impossível que algo existisse agora.
O consequente simplesmente não segue do antecedente. Pois isso pressupõe que o suposto tempo t (no qual não poderia haver nada existente) é um tempo anterior ao presente. Mas nenhuma justificativa é apresentada para essa suposição. Por tudo o que o argumento mostra, o único tempo t em que nada existiria poderia facilmente ser um tempo futuro. Mesmo se admitirmos que há algum tempo t tal que não poderia ter havido nada em t, é uma questão em aberto se t é anterior ou posterior ao presente. Isso significa que o consequente não decorre do antecedente, uma vez que se o t em questão for posterior ao presente, é simplesmente falso que, portanto, seria impossível que algo existisse agora. Isso só aconteceria se o t em questão fosse anterior (ou simultâneo a) agora.

2.4 Premissa (19): Mind the Gap

Lembre-se da premissa (19): Se existe pelo menos uma coisa necessária per se, então Deus existe.
Suponha que trabalhemos com o entendimento de "necessidade" e "contingência" proposta por Feser. Então, tudo o que obtemos aqui é algo que é eterno, mas cuja eternidade não é derivada de outra coisa. No mínimo há um trabalho substancial pela frente, a fim de se obterem atributos divinos religiosamente significativos a partir disto. 
É importante notar, além disso, que mesmo que pudéssemos inferir a existência de uma entidade que não poderia deixar de existir (ou seja, uma coisa que existe com uma necessidade metafísica robusta) - e mesmo que tenha essa necessidade por si mesma -, isso de forma alguma significa implicaria no teísmo clássico (ou, eu diria, teísmo como tal). [Fn] O ser que existe de necessidade metafísica poderia ser simplesmente o Deus Teísta Neoclássico, ou um Deus Panenteísta, ou o que quer que seja. [Fn] Ou poderia ser uma coisa necessária amigável ao naturalista, como matéria/energia, um campo quântico fundamental , uma coleção fundamental de partículas, ou um segmento inicial do mundo (para este último ponto, veja aqui e aqui).

[Fn] O próprio Feser tenta inferir a realidade pura da necessidade metafísica, mas isso é um flagrante non-sequitur na minha opinião. Para um breve tratamento deste ponto, veja aqui.

Claro, pode-se trazer mais ferramentas de argumentação aqui. Por exemplo, pode-se introduzir a distinção esse-existência e argumentar que um ser necessário per se deve ser tal que sua essência e existência sejam idênticas. Mas agora a Terceira Via simplesmente cai no argumento De Ente, o que significa que não temos mais a terceira via como um argumento independente para a existência de Deus. Seria um parasita do argumento de De Ente. Sua força como argumento independente, então, seria neutralizada (que é meu único objetivo aqui). 

3 Conclusão

Minha avaliação é que a Terceira Via não é bem-sucedida. Abaixo, darei um esboço dos principais problemas da Terceira Via.
Os principais problemas (com uma variedade de problemas dentro de cada uma dessas categorias) são:
  1. A premissa (1) é falsa (ou pelo menos injustificada)
  2. A premissa (4) é falsa (ou pelo menos injustificada)
  3. A premissa (6) é falsa (ou pelo menos injustificada)
  4. A premissa (19) é falsa (ou pelo menos injustificada)
  5. Muitos derrotadores Mooreanos  
Não explorei uma grande variedade de outros caminhos para criticar a Terceira Via (por exemplo, enfocando cadeias infinitas de dependência hierárquica). No entanto, quando somadas, as críticas que levantei equivalem a mais de meia dúzia de problemas com a Terceira Via (excluindo os argumentos distintos e variados dentro da categoria derrotadores de Moorean). Mais uma vez, minha esperança central é que isso o sirva em sua busca pela verdade.

Nota do tradutor: Novamente, obrigado por permitir a tradução do artigo, Joe.

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